A Ascensão da Minigrid – Parte 1 de 2

KUDURA in Sidonge minigrid for rural electrification

Tweetear isto: #minigrid #SHS #diesel #solar #climatechange #ruralparadigm

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Neste blog de duas partes exploramos a ascensão da mini-rede ou mini-grid e o seu papel em abordar o paradigma rural. A partilha das suas ideias sobre esta temática é bem-vinda!

Querosene, carvão vegetal, lenha florestal e gasóleo são normalmente as escolhas predominantes de energia para aqueles nos países em desenvolvimento mas não necessariamente a mais barata, segura ou sustentável – a combustão em sítios fechados mata mais de 1,3 milhões pessoas por ano no mundo [IEA]; florestas estão sendo abatidas a um ritmo alarmante, com consequências devastadoras para o ambiente – menor quantidade de CO2 é sequestrada em árvores, a erosão dos solos aumenta e a biodiversidade diminui – e.g. até o principal produtor de petróleo no continente africano, Nigéria, depende em mais de 80%  das suas necessidades primárias de energia sob a forma de biomassa tradicional proveniente das florestas e sob a forma de resíduos – maioritariamente para aquecimento e uso em fornos ineficientes [IEA]; o preço do gasóleo é suscetível a variação e é muito caro ou mesmo inexistente na maior parte das zonas rurais e devida manutenção do gerador pode ser um problema. Isto, juntamente com 1,1 milhar de milhão e 2,4 milhares de milhão de pessoas sem acesso a fontes de água potável e condições mínimas de saneamento respetivamente [WHO], define o que chamamos de paradigma rural.

Para além disso, 1,3 milhar de milhão de pessoas no mundo não têm acesso a eletricidade em que cerca das quais 84% localizam-se em zonas rurais [IEA]. A recente diminuição do preço dos módulos solar-FV nos últimos anos tem criado a impressão que a electrificação rural está a progredir com advento de produtos solares e baratos de pequena escala como lâmpadas solares portáteis (SPL em inglês), sistemas solares pico (PSS) ou sistemas solares domésticos (SHS) capazes de alimentar pequenas cargas tipo DC como lâmpadas LED, rádios, carregar telemóveis ou mesmo alguma cargas tipo AC.

Este tipo de sistemas permite àqueles no base da pirâmide (BoP) tornarem-se auto-suficientes em alimentar alguns aparelhos e até mesmo serem “empresários” ao vender serviços de energia à comunidade como por exemplo carregar baterias ou telemóveis e as pessoas estão dispostas a pagar por eletricidade para iluminação, carregamentos ou televisão como sugere o nosso projeto piloto em Sidonge. Pode parecer um luxo não-essencial para a população rural pobre ter uma televisão mas percebemos através de Sidonge que a televisão é essencial para acompanhar eventos, especialmente os resultados de eleições em tempo-real, algo não tão supérfluo.

Contudo estes sistemas têm várias desvantagens. A sua capacidade de gerar e armazenar energia é inerentemente limitada – por exemplo, um sistema SHS de 80W normalmente fornece em média 2 horas de televisão durante a noite. E assim que a necessidades energéticas aumentam ao longo do tempo, outras limitações como fiabilidade do sistema e serviços de operação e manutenção tendem a surgir; a bateria – a componente mais cara – necessita de ser substituída habitualmente a cada 2-3 anos pois muitas vezes a “gestão” da carga é do controlo do utilizador, muitas vezes conduzindo a descargas profundas nas baterias, reduzindo assim o seu tempo de vida o que pode gerar um problema se as baterias não forem recolhidas ou recicladas devidamente.

Isto agrava-se em zonas rurais remotas onde adquirir peças e suporte técnico localmente pode ser difícil. Apesar destes sistemas serem de custo acessível, apenas fornecem uma parcela das necessidades energéticas de uma família ou de um negócio ou actividade. Estes não fornecem uma solução para cozinhar, para água potável ou para pequenos e médios negócios pois não conseguem alimentar cargas elevadas como purificação de água, irrigação ou moagem de cereais, que continuariam a utilizar gasóleo que é caro e escasso nestas zonas. O maior problema, contudo, é que a eletrificação rural é abordada individualmente e a um passo lento, em vez de ser considerada a um nível comunitário e com benefícios a longo-prazo.

Por outro lado, a eletrificação a nível comunitário por via de uma rede elétrica de pequena escala não ligada à rede nacional (mas que a pode acomodar esta caso chegue um dia) normalmente apelidada de (nanogrid, microgrid, ou) minigrid, alimentada por recursos endógenos como solar, eólico, pequena hídrica ou resíduos de biomassa, ou uma combinação de vários recursos na qual geradores a gasóleo podem ser combinados para obter a solução mais custo-eficaz e sustentável, pode oferecer melhores benefícios a longo prazo e escalar de forma mais eficaz para erradicar o paradigma rural em locais onde a extensão da rede nacional não é economicamente possível e/ou a capacidade em pagar pela energia é baixa, mesmo que os cabos elétricos da rede nacional passem por cima de aldeias. Fiquem atentos à parte 2 na qual exploramos os potenciais obstáculos e principais benefícios das minigrids.

KUDURA in Sidonge minigrid for rural electrification

Connecting the KUDURA minigrid in Sidonge Kenya

Henrique Garrido

The Rise of the MiniGrid – Part 1 of 2 The Rise of the Mini-Grid – Part 2 of 2
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